domingo, 21 de março de 2010

Tempo. Pra quê?



Hoje eu decidi virar a segunda página de Memórias de Minhas Putas Tristes. Sim, Gabriel García Márquez teve de esperar (desde o amigo invisível do natal passado) o término do livro de contos eróticos que me emprestaram, os apontamentos do novo nível do curso de francês e Victória Alada, que me fez aguardar pelos Correios com a ansiedade que não vivia desde a 5ª temporada de The L Word.
Às vezes, estar só faz bem para o abastecimento cultural da alma. E do ego. Nunca sobrou tanto tempo pra mim. Não que não queira estar acompanhada. Mas, em que outro domingo, desde os meus 25 anos, eu teria (por vontade própria) tantas horas pra digitar a metade final do meu romance escrito à mão? Eu sei, eu sei. Já vi, li, ouvi e vivi que não devemos nos abandonar em um duo, mas sou integrante da parcela de humanos-mula que ficam se testando pra saber até onde vão.
Quando se está em um relacionamento, cumprimos uma série de “burocracias românticas” tendo a consciência de que seremos cobrados mais lá na frente. O mais engraçado? Gostamos dessa prisão. Esperamos, lutamos por ela. Cantamos, escrevemos, encenamos a inspiração. Lucramos com ela. Não sabemos o que fazer quando as carceragens são abertas. Leva um tempo até rever o que (e quem) deixamos pra trás. Retomar o equilíbrio, o prumo, nos obriga a mais uma prisão.
A vida nos cobra escolhas o tempo todo. A de hoje: passar da quinta página do velho Gabriel, me dado pelo novo Gabriel, postar este texto e seguir adiante.

(...)

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas
Que já têm a forma do nosso corpo
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares
É o tempo da travessia
E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado
para sempre
À margem de nós mesmos
(Fernando Pessoa)

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