sábado, 20 de março de 2010

A paixão segundo Hilda Hilst


Cassiano Elek Machado – Folha de São Paulo - 07.02.2004

Muito além dos folclores de Hilda Hilst -da senhora que vivia cercada de vira-latas, da autora boca suja, da femme fatale que assombrara os homens da velha São Paulo, da mulher irremediavelmente fascinada pela loucura do pai - havia paixão.
Em trecho não publicado de longa conversa da poeta com este repórter, em 2002, na Casa do Sol, ela dizia: "Você precisa sempre se apaixonar para ter algum interesse na vida".
Não precisava ser por uma mulher ou um homem, podia ser por uma idéia, por Deus. Bem-humorada, ela logo auto-retrucava: "Mas eu prefiro por um homem". E completava: "Por isso acho muito triste a velhice, porque sempre as pessoas falam: "Fica com Deus". Nunca dizem: "Fica com um homem'".
Mas Hilst não estava falando da verdadeira paixão. A mulher que encantou certa vez Dean Martin, diz a lenda, logo confessava: amor mesmo era a poesia.
Publicada a maior parte da vida por editoras pequenas, sobretudo pelo bravo Massao Ohno, a poeta só chegara a uma grande editora em 2002.
A Globo acabou de vender duas obras dela para Portugal. Negociava agora com a Alemanha, que nunca lera seus versos.
A apaixonada Hilda Hilst morreu às 4h da manhã de quarta, aos 73 anos, sem saber".

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