domingo, 30 de maio de 2010

O tudo que é nada

"...No passo da noite me acho
Contando as estrelas, pedaços
No vão dos meus olhos vazios
Vagando, seguindo, são frios
São minhas janelas abertas,
São minhas mãos estiradas
Ao vento, ao tempo, a estrada
Esperando esse tudo que é nada
Esperando esse muito que é nada".
(Isabella Taviani)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Represa


Retenho um braço de rio que
desvia o curso
pra não desaguar.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Rejeição


Tenho pena das pessoas que não mudam. Dessas que o tempo enruga o corpo e enrijece a alma. De gente que não amadurece por orgulho ou egoísmo. Que teima em não aprender que transformação, de fato, acontece de dentro pra fora. Pena de quem não suporta a própria companhia e sempre precisa de muleta, amuleto e âncora. De gente que prefere ser cais ao mar. Tenho dó daqueles que insistem em não acompanhar a sabedoria dos anos. Os que são inflexíveis nas suas (in)certezas e, por causa delas, magoam. E ainda acham que são merecedores de segunda, terceira, quarta chance.  Desprezo quem se faz de vítima e lastimo profundamente por aqueles que acreditam que o mundo acompanha a sua pequenez. Dos que se escondem no passado e ousam planejar um futuro de frustrações. E nutrem a confiança de que contarão contigo. Tenho compaixão das pessoas que se permitem esquecer facilmente.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Leve



Fazia tempo que precisava arrumar a casa. Não a que eu moro, mas a que reside em mim. E decidi que não podia mais adiar essa necessidade por preguiça. Sim, preguiça. Nos acomodamos com a nossa bagunça interna. Damos um jeitinho de viver com a falta de espaço, espremidos, quase sem ar.  Mas hoje, não. Hoje eu cumpri meu mandado de reintegração de posse. E assim fui me livrando dos cacarecos que já nem me tinham mais utilidade. Alguns amarelados com o tempo, apesar do zelo. Fotografias, lembranças, gente. E fui me sentindo aliviada, em ordem para preencher mais uma vez meu bauzinho de memórias.

domingo, 9 de maio de 2010

Feliz dia das mães!



Já aprendi voar dentro de você
Ancorar no espaço ao sentir cansaço
Ossos da jornada

Já aprendi viver como vive nu
Um cacique arara cultivando aurora
Luz de sua tiara
Eu amo você, terra minha amada
Minha oca, meu iglu, minha casa
Eu amo você, pérola azulada
Conta no colar de Deus, pendurada
A bênção, minha mãe
Já aprendi nadar em seu mar azul
Adorar a água, homem, peixe, água
Fonte iluminada
Já aprendi a ser parte de você
Respeitar a vida em sua barriga
Quantos mais vão aprender


Eu amo você...
(Pérola Azulada - letra do compositor Nilson Chaves)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Brisa



Porque é tempo de amenidades.
E eu me permitirei.
 Como quem recebe alta da UTI das estreitezas
 e redescobre que somos além de esperas.
Do gesto anulado,
da palavra engolida,
do projeto frustrado.
Viver é tão simples.

sábado, 1 de maio de 2010

Desconexão


De repente, tudo me pareceu tão pequeno. Minúsculo, quase microscópico. Aquilo que tenho julgado angústias sazonais, que me consome versos. Falta de grana, amores mal resolvidos, tempo corrido, saúde debilitada, a falta de companhia.  Pessoas frias, sempre apressadas como eu, que me atravessam os dias, a garganta seca, o coração aflito. A falta de palavras para um emaranhado de estórias que ouço, mas não escuto. Não tenho escutado nem mais minha voz. E ando precisada de fisioterapia para respirar melhor, terapeuta e cardiologista. Ao longe, só um zumbido. E a vontade voraz de envelhecer.