terça-feira, 28 de setembro de 2010

Muda


Porque meus versos anoiteceram tristes,
como a alma que carrego.
Vazios de rima e métrica
Linearidade muda, de um silêncio
que vocifera em mim.

Entreaberta

Do outro lado da porta
pedra turmalina,
a maçaneta.
Na ponta, o desejo
Obscuro,
quase negro,
De não fechá-la

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Outono


Chegas
Com Teu descabido lirismo
Tentas Me seduzir
Com Teu farfalhar de cores
Que voam
Que brotam
Que cantam

Inglória sedução

Não Desperdices
Tão Prima e Vera Poesia

Ainda Durmo no Outono!
(Wanda Monteiro)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Palavras mortas


Palavras, apenas
Palavras pequenas
Palavras
Momentos

Do que faço a vida
Do que a minha me refaz
Amanhã, quiçá,
o sentimento não sufoque o verbo.
Penar da febre
Ímpeto do nada
Fúria do não agir.
Mas hoje,
Sim, hoje.
Mato a oração subordinada de causa e efeito.
Lacro boca e carne
Semântica e sintaxe,
Sepultadas.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Jazo-te

Se
Estou em ti
Como expectativa do nada
Impulso de partida
Febre de agir


Se
Deserto em ti
Ânsia de ausência
Assalto de ti
Exílio de mim


Enterro-te
Carne sem sangue
Sem pulso
Sem rosto
Sem nome


Faço-te
Memória morta
Inscrevo-te em epitáfio
Aqui jazz


O avesso do afeto
O desfecho do desejo
Ocaso do sentir


(Wanda Monteiro)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Dedicatória

O poema, escrevi.
Da interpretação, ainda não sei
Se foi insensibilidade à literatura
ou a mim,
Mas a menina não notou
Que se tratava de uma oferenda.

domingo, 5 de setembro de 2010

Sinto Encanto

Sabe quando a gente se apega a um CD ou uma música e lá ficam eles, todos os dias, nos obrigando a ouvi-los? Pois ando assim. E uma canção, em especial, despertou minha atenção (segue abaixo). O CD já estava há tanto tempo no meu computador, mas só esses dias – em que fui obrigada a passar mais tempo em casa, por motivos de saúde – fui vasculhar o que tinha. Foi bom! Fiquei encantada com o que encontrei.

“Eu ouço sobre o amor e me calo
Eu não quero nem saber
O que me espera
Eu acelero
Tomo um gole do que eu não conheço
E meu primeiro porre
Será um mistério imenso
Eu vim do avesso
Reverso do que era aceito
Ninguém sabe tudo
Nada é perfeito
Eu escuto fora
Com o ouvido de dentro
Eu me alimento
Do meu silêncio
E canto
Porque sinto um encanto
Sinto e canto”

(Paulinho Moska e Zélia Duncan)

P.S: Não resisti. Ouvi mais uma vez, na versão da Zélia. CD “Pelo Sabor do Gesto” (2009). Se não o conhecem, não façam como eu, que esperei quase o fim de 2010 pra ouvi-lo. O álbum inteiro é maravilhoso!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Presente

Cavo a vida e
O sentido dela
Na abstração do mundo que sonho

Componho
Recomponho
Sentidos
Todos
Com eles

Perco-me da Realidade
Factível
Absurda!

Me liberto
Desse Tempo
Que demarca a Vida
Represa o Pensamento
Roubando-lhe as cores
Os sons

Desse tempo
Que emudece
Que desbota
Fazendo pálida a memória

Minha existência
Não cabe na impassividade da Razão
Que me confina
Que me objeta

Minha existência
Só cabe no Sonho
Esculpido

Na crueza de minha Inconsciência

Sou
O que quero Ser

 (Wanda Monteiro)

Recebi este mimo em forma de presente ontem, quando completei 30 anos. Um livro da escritora paraense, Wanda Monteiro (O Beijo da Chuva) - que já devorei todinho. Selecionei uns cinco ou seis poemas favoritos, que pretendo postar em breve aqui.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Veste



Um amor manso
que deita e levanta
amiúde,
em mim.
Que desacata a minha
incapacidade
de despi-lo.