Tenho escrito a você ao longo dos dias como quem escreve um diário de bordo, se aventurando na esperança de guardar memórias, enquanto deseja voltar pra casa. Não há que eu moro, mas a que mora em mim. Ou como quem envia cartas a um parente distante ou um amigo de infância, contando detalhes do dia, na tentativa de preservar a intimidade. Tenho escrito para dar vazão aquilo que não dava conta sozinha, que me acompanha por ora nessa trajetória que, sabemos, logo não deve durar. Nem pra mim nem pra ti. Mas há de se ter cumprido seu papel.
Hoje decidi arriscar os primeiros passos sozinha. Calcei sapatos e me pus a caminhar, porque é pra frente que se anda...sempre. E eu precisava cair pra seguir adiante, sem ser amparada. Hoje a verdade, ao invés de me derrotar por vez, me trouxe à luz da convicção de que existem jornadas que são só nossas. Precisamos cruzar bosques, vales, oceanos. Enfrentar dragões, bichos do armário, homens do saco, moinhos de vento. Solidão. Porque não existe desilusão maior que o passo nem frustração maior que o desejo de ir em frente.
No meu pequeno trajeto observei animais, crianças, jovens, velhos. Cada um a seu tempo. À sua pressa. À sua sede de viver. Pude ver de perto aquilo que a gente não nota, porque perdemos muito tempo voltando os olhos apenas pra nós mesmos, para os nossos anseios. Mais do vi, enxerguei. E pude observar que a vida segue seu curso e que por isso devemos seguir adiante.
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