Lendo uns perfis de bloggers e orkuts descobri uma coisa em mim: não tenho livros, filmes ou canções favoritas. Sei do que não gosto, mas sou apaixonada por infinitas coisas. Reparei que muita gente escreve o que acha que o outro gostaria de ler (e se impressionar, por que não?) e, na bagunça da singularidade humana, imagino que seja quase inconcebível tantas afinidades. "Cem Anos de Solidão", "A Insustentável Leveza do Ser"... Nomes de bandas e protagonistas que nem saberia escrever o nome sem a ajuda do Google. Acho que a maioria nem lê o que diz, assiste o que fala e não se exercita o quanto pronuncia. Se fosse assim, não teríamos tantas mortes por sedentarismo nem assassinaríamos a língua portuguesa. Quem dera termos a cultura que propagamos!
Dia desses li num site, cujo nome não lembro, que 75% dos americanos leem jornal, contra 4,5% dos brasileiros. Eita! Depois recordei de uma discussão que tive em sala de aula, quando a doutora em linguística tentava me convencer que é mentira essa história de que a gente tem preguiça de ler. Ainda usou a feira Pan-Amazônica do livro, em Belém, como justificativa ao seu argumento. Justo no dia em que assisti a uma entrevista de um crítico literário dizendo que lemos pouco porque o preço do livro é muito caro! Temos o quarto maior evento literário do Brasil, mas quantas daquelas pessoas vão a feiras literárias em busca de narrativas que embalem suas vidas ou ampliem seu conhecimento? A feira, na verdade, já deveria ter mudado para “com livro”. Tem música, comes e bebes à vontade e muita gente disposta à badalação. O valor dos livros é salgado e a miséria é grande, principalmente intelectual, é bem verdade. Mas shopping novo está abarrotado de curiosos dispostos a consumir novidades, no centro comercial mal dá pra andar sem se aborrecer com os camelôs e com gente que pára (ainda gosto deste acento aí, mesmo com a reforma ortográfica. Vai ser difícil me desapegar dele) em frente às lojas, me trazendo a sensação de que não têm nada de melhor pra fazer. Os parques de diversões são disputadíssimos. A voltinha custa caro e dura cinco minutos, no máximo. Os shows dos cantores em voga, quase sempre têm filas para pagar o ingresso, que não custa barato.
Tudo isso é maravilhoso e devia ser complemento de uma vida saudável, recheada de cultura, mas os livros e os jornais no Brasil continuarão a ficar em último plano. São 510 anos de atraso. E ainda reclamam do preço da energia elétrica! Prefiro lê-los primeiro e continuar a não ter escolher qual é o melhor. Sem precisar optar, porque é absolutamente desnecessário, amplio o leque de opções. Sempre.
sábado, 20 de março de 2010
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4 comentários:
O pior de tudo, é ainda vê pessoas com nível superior completo escrevendo "concerteza" e "saldade".
Eu me mato ainda. kkkkkkkkkkkkkkkkk
"Reparei que muita gente escreve o que acha que o outro gostaria de ler (e se impressionar, por que não?)..."
Faz muito sentido sua colocação. Mas você já parou para pensar que se trata de um veículo de comunicação ainda pouco utilizado pela população (brasileira)? E que esse pequeno universo dos que tem acesso à ferramenta, é constituído por pessoas com níveis intelectuais um pouco acima dos padrões? 75% dos americanos leem jornal, contra 4,5% dos brasileiros. Fato. Porém, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios sobre acesso a Internet e posse de telefone móvel celular para uso pessoal (e isso, confesso, roubei do Google! *rs), realizada pelo IBGE, mostrou que 79% da população nunca acessou a Internet. Apenas 21% (ou 32,1 milhões) entrou pelo menos uma vez na Internet em algum local.
"...e, na bagunça da singularidade humana, imagino que seja quase inconcebível tantas afinidades. "Cem Anos de Solidão", "A Insustentável Leveza do Ser"..."
Acredito mesmo que o número de pessoas que REALMENTE lêem aquilo que afirmam ler é bem menor do que as que apenas colorem seus perfis orkúticos e bloguísticos. Mas ainda acho que não é tão "Ctrl C", "Ctrl V" assim. Só pelo fato de o ser humano saber diferenciar um(a) leitura/filme/música cult de um(a) trash já demonstra uma certa diferenciação desse pequeno grupo do restante da população.
Beijos escarlates!
Ah, cara mia! Independente das condições de acessibilidade, as ferramentas de informação e divulgação sempre existiram (cada uma a seu tempo).
Não sei que nível cibernético-intelectual é esse, ao que você atribui "parcela superior" dos que têm passaporte à Internet. Trinta minutos de navegadinha chega a custar R$0,50 nas lans houses mais remotas do Brasil. Não considero o analfabeto funcional ou informático (por falta de oportunidade ou vontade) mais ignorante do que aquele que usa a rede para fins que vão muito além da busca por informação e entretenimento.
A estatística só deveria andar de mãos dadas com a sociologia e a antropologia.
Beijos!
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