quarta-feira, 16 de março de 2011

Movimento


Com o passar dos anos ponderamos com os sentimentos. Vamos nos auto-censurando com a idade. Passamos a achar até ridículas certas manifestações amorosas.

Relendo um e-mail recebido há três anos e meio, revivi uma sensação que desde então me é desconhecida. Na época eu havia me separado, depois de um ano e meio de relacionamento. Queria estar longe, troquei de telefone e corte de cabelo. Só nos restou o contato virtual, que eu não correspondia. Mas lia. E hoje reli. Não foi de propósito. Estava catando um endereço na minha conta quando bati os olhos e lá estavam eles. Me lembrei de uma cena de Sex and City 1, o filme, quando a Carrie Bradshaw encontra todas as cartas de amor digitadas por Mr. Big no e-mail dela. Ele, homem de meia idade e de poucas palavras, decidira manifestar o que sente digitando poemas de amor de grandes pensadores.

Vamos estabelecendo prazos de validade às emoções. Delimitando quanto devem durar e de que forma devemos expressá-las. Recorremos à música e a poesia para extravasar o que sentimos. Engolimos palavras, gestos, comoções. Tudo pra impedir que o destino cumpra seu papel, como se fôssemos capazes de detê-lo.

Acho mesmo que o tempo nos transforma em Mrs. Bigs. Senhores de si, de expressões veladas. Mas o fato é que, por alguma razão, não deletei aqueles e-mails. Talvez esperasse reencontrá-los em época de grandes vazios. Porque queremos evitar o que nos estremece, nos rouba a razão, mas temos necessidade disso: movimento.

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