quinta-feira, 31 de março de 2011

Devo

Mas sei que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar
Azar, a esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar

sexta-feira, 25 de março de 2011

Silêncio

Verbos mortos
de rima e métrica
Versos livres,
também emudeço
Porque uma mulher
sim,
ela
levou-me a inspiração e
os instintos
Pobre poeta
de mim
amordaçada

sábado, 19 de março de 2011

Angústia


Choro sufocado
Sentimento espremido,
mal cuidado
Negligência de alma
Laço desfeito
Nó atado no meio da garganta

quarta-feira, 16 de março de 2011

Movimento


Com o passar dos anos ponderamos com os sentimentos. Vamos nos auto-censurando com a idade. Passamos a achar até ridículas certas manifestações amorosas.

Relendo um e-mail recebido há três anos e meio, revivi uma sensação que desde então me é desconhecida. Na época eu havia me separado, depois de um ano e meio de relacionamento. Queria estar longe, troquei de telefone e corte de cabelo. Só nos restou o contato virtual, que eu não correspondia. Mas lia. E hoje reli. Não foi de propósito. Estava catando um endereço na minha conta quando bati os olhos e lá estavam eles. Me lembrei de uma cena de Sex and City 1, o filme, quando a Carrie Bradshaw encontra todas as cartas de amor digitadas por Mr. Big no e-mail dela. Ele, homem de meia idade e de poucas palavras, decidira manifestar o que sente digitando poemas de amor de grandes pensadores.

Vamos estabelecendo prazos de validade às emoções. Delimitando quanto devem durar e de que forma devemos expressá-las. Recorremos à música e a poesia para extravasar o que sentimos. Engolimos palavras, gestos, comoções. Tudo pra impedir que o destino cumpra seu papel, como se fôssemos capazes de detê-lo.

Acho mesmo que o tempo nos transforma em Mrs. Bigs. Senhores de si, de expressões veladas. Mas o fato é que, por alguma razão, não deletei aqueles e-mails. Talvez esperasse reencontrá-los em época de grandes vazios. Porque queremos evitar o que nos estremece, nos rouba a razão, mas temos necessidade disso: movimento.

terça-feira, 8 de março de 2011

Deux


Um dia, ela e eu estranhas
Depois, ela e eu febre
Medo, desespero, pavor

Fomos, ela e eu solidão
espera,
abstinência
Sede, voracidade
Possibilidade
Calma!

Porque, sim. Ela e eu fomos brisa
Cumplicidade
Sobriedade
No toque, nos olhos
Vontade!

Tácita, mansa
Ela e eu rascunho
Privação, projeção
Frieza, tristeza
Ela e eu dor

Sopro do passado
Ânsia do futuro
Dividida
Em duas partes

Mas fomos, sim
Ela e eu
Somente
Plenitude, ternura
Instantes
Fragmentos de felicidade
Ela e eu, simplicidade
Lembranças.