quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Pour elle

Parto feito
Menina crescida
Partes feitas
Refeita

Passo adiante
Acordo da vida
que te encanta,
que me canta
Balbucia teu nome
e me diz:
"ela se foi"
Enfim.

...eu sou você que se vai no sumidouro do espelho...

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Que venha 2011!

"...Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior.
(...) 
Tudo me interessa e nada me prende... Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. De resto, com que posso contar comigo? Uma acuidade horrível das sensações e a compreensão profunda de estar sentindo...Uma inteligência aguda para me destruir e um poder de sonho sôfrego de me entreter...Uma vontade morta e uma reflexão que a embala, como a um filho vivo.
 (...)
Tenho fome da extensão do tempo e quero ser eu sem condições... Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura..."
(Fernando Pessoa)

sábado, 25 de dezembro de 2010

Então é natal...

Nietzsche no móvel do computador e caneca de café nova vazia, esperando. Presente de amigo invisível sem utilidade.

Um abraço adiado, outro sufocado, um sorriso forçado e a vontade imensa de me recolher debaixo das cobertas. Mas estou de plantão no trabalho, com apenas duas horas de sono e um compromisso que quero adiar.

Saldo: duas notícias tristes; uma quase feliz. Ah, essas datas! Ainda nos damos o direito de nos frustrar!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Nosso altar particular

Há quem decore a vida na ponta da língua, outros rabiscam o próximo passo na ponta do acaso.
Aqui, nessa estação, onde um outono instrumental inspira a queda das palavras, minha força escorre poemas pelo cedro desse palco, assim como meus pés cravam a fidelidade aos sonhos desses guris atrevidos que aqui brotarão virtuosos, aguerridos com seus estilingues de cordas vocais de nylon e de aço, apedrejando a covardia dos homens secretos a si.
Fábula em partituras da Gata de Botas! Maria e seus Joões cantam o caminho de volta para o íntimo, hasteiam leves uma bandeira toda bordada de mocidade, doces rendas melódicas, ponto a ponto terras descobertas, a cada acorde um ensaio para acordar um moço jeito de existir. Sem a intenção de trocar de mundo, apenas unir quem não coube em sua acidez.
Inventemos aqui, nesse solo fértil, veraneio da arte, palco do palhaço “Randevu”, um baile de amigos em pleno velório do falecido monstro que cobria o horizonte de quem ama o que se pode ser. Aqui jazz uma solidão ignorante. Naufragam agora todas as farsas escritas pelo cão. Dionísio, arauto de tudo que se une fantasticamente, abre alas desse concerto para os desconcertados se banharem. A partir de hoje uma nau de solidão navegará aliviada dos apegos impossíveis, e uma nova geração desvendará a ilha daqueles que sonham antes de dormir.
Notas serão como uma leve pluma, lançadas ao vento com destino certo: afago no espírito, cócegas na alma, mimo na paz, inibir agonias, afrouxar todo o receio de ser devaneador. Na Rua do Acalanto, primeiro peito franco à direita, casa de janelas sempre abertas e dispostas ao novo, jardim de lindas rosas de espinhos prósperos, varanda ao infinito, mansão cor de legítimo coração, em frente ao público dessa nossa solidão. Ali a pena dançará e nenhuma câimbra na felicidade, nem faíscas de isolamento nos fará desistir de estarmos “todos juntos”. (Caio Sóh)

Me deliciando com poesia em forma de música. Assistam ao DVD, ao vivo, de Maria Gadú.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Fragmentos


Hoje esperava minha vez em uma central de atendimento do plano de saúde e não imaginei que demoraria tanto. Fui desprovida de boa leitura e já estava fadigada de ficar com as mãos no vácuo, enquanto via as pessoas impacientes suplicarem que o painel eletrônico os livrasse daquele tormento. Foi quando decidi folhear despretensiosamente uma dessas revistas empresariais segmentadas, que circulam nesses ambientes. Essas de bom acabamento e conteúdo duvidoso. Comecei, como de praxe, a leitura no estilo mangá e já a última página me reservava uma grata surpresa.
Raimundo Sodré é um escritor paraense que conheço bem menos do que ouvi falar. É dele parte do texto que posto agora, sem pudor de tomá-lo como meu. De certo, um dos mais simples e bonitos à minha terra, Belém do Pará.
“...Um beijo, um porre, um pensamento mau, um dinheirinho suado, uma desilusão, um assombro, um arrependimento, uma despedida, um reencontro, uma poesia, um palavrão, uma maldição, meu bem, meu mal, minha indiferença, o pôr-do-sol, o luar, a cachaça de Abaeté, uma nota no violão, a chuva fina, o amanhecer, os olhos farinhados de sono, as pimentas coloridas e o verde das folhas orvalhadas pela madrugada, o mistério das ervas , o imprevisível humor das ondas que às vezes vão buscar a gente lá longe, a brisa amiga e refrescante no final da tarde e o sal das minhas lágrimas que rolam agora sem embaraço nenhum...”
Sem caneta ou papel em mãos, este texto foi anotado no próprio celular. Perdoem-me se houver pequenos deslizes, mas digitava-o rápido, contando com a minha chamada. Diferente da impaciência de outrora, esperava que o tempo fosse bondoso e se arrastasse em sincronia com o meu deleite literário. Raimundo é tão gentil com as nossas lembranças, que nos faz viajar na miudeza, nos detalhes do cotidiano... Independente do lugar. Belém ou Paris. Abaetetuba ou Nova York. O cenário sempre cede às minúsculas memórias. Fragmentos da simplicidade de que é feita a vida.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Enleio



Na súplica do talhe
a desordem do verbo
Na perturbação da ausência
Voltas da imaginação
Suspeita da paixão
à espreita
de um coração
fugaz