terça-feira, 1 de março de 2016

Nosso cardápio de emoções





Todos nós, dotados de inteligência e um pouco de autoconhecimento, sabemos no fundo até onde podemos ir, do que somos capazes.
Se as opções fossem-nos colocadas num cardápio de emoções, saberíamos escolher e descartar o insosso, onde falta açúcar ou pimenta. Sabemos exatamente o que nos sacia, o que nos dá prazer.
Aprendemos que comida saudável faz bem, mas inúmeras vezes optamos pelo fast food. Afinal, tem o paladar mais agradável e nos ludibria as sensações. Queremos comer com olhos e olfato, antes. Por fim, damos a primeira abocanhada. E em doses homeopáticas, vamos entupindo nossas artérias até chegarmos ao ponto do sufocamento. Com medo de morrer num infarto fulminante, mudamos radicalmente de hábitos. Queremos uma nova chance! Como se num estalar de dedos, nossa razão fosse lustrada por um limpador de para-brisas. Passamos a comer melhor, respirar melhor, ir a novos lugares, praticar exercícios, se dar a chance de reencontrar quem nos faz bem e esteve sempre disponível, conhecer novas pessoas, viver com mais qualidade. Perdemos peso, mudamos o corte de cabelo, damos um up no guarda roupa, às vezes mudamos até de endereço pra tentar caber no novo. Mas por que agora, se estava tudo ali antes da quase morte? Por que precisamos nos abandonar primeiro pra depois decidir tomar conta de nossas vidas? Por que temos dificuldade em dizer "não", ao outro e a nós mesmos? "Não" ao que temos a plena consciência que está nos chagando? Da possibilidade de rejeitar tudo aquilo que nos maltrata a saúde física e emocional?
Com o passar do tempo, esse cardápio de emoções fica até repetitivo. São sabores que nossos paladares reconhecem, no entanto temos preguiça de ir pra casa cozinhar, inventar uma nova receita, degustá-la, arrumar a cama e deitar tendo apenas o prazer de estar em nossa companhia. Temos apego a tudo e a todos. Somos acomodados, materialistas. Tememos o novo por pura preguiça e pavor do recomeço, mesmo depois de provar os mesmos gostos. Optamos por aceitá-los amistosamente. Nos são familiar. Correr o risco, pra quê? São tantos receios, que vamos nos esquecendo de nós mesmos, entregando e exigindo do outro um papel que só a nós cabe: o nosso compromisso com a felicidade.