segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Mortificada

Sepultar é doloroso
Prosseguir, urgente!
Mas...
Arquear e retroagir
virou rotina rendida.
Torpor
Vício
Abstinência do próximo "tapa"
Masoquismo cotidiano
permissível em mim,
ressentida e insípida.
Necessidade de exorcismo
Precisão do tempo,
derradeiro
imutável
implacável

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Xeque-mate


Jogadora experiente e ardilosa, eu
me aceito
derrotada.

Amorfa
apática
impotente
cansada

Estava nítido
como o preto no branco,
o tabuleiro.
Ou branco no preto

Sem espaços pra enganos
ou súplica

Vitorioso,
ele debochava de mim
Inegável e majestoso,
O Amor.


"...The winner takes it all
The loser has to fall
It's simple and it's plain.
Why should I complain.
(...)
You must know I miss you
But what can I say?
Rules must be obeyed..."

(ABBA)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Manequim


Eu te vejo sumir por aí
Te avisei que a cidade era um vão
- Dá tua mão
- Olha pra mim
- Não faz assim
- Não vai lá, não

Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir
Já te vejo brincando, gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar

Na galeria, cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão

(As Vitrines_Chico Buarque)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Indelével

 *Minha tatoo antes de sair do papel pra pele

É como tatuagem
essa marca
em mim

Cicatriz superficial
perpetuada
Tinta entranhada na pele
Fuligem no poro

Traço e contorno
sem preenchimento
Borracha do tempo
incapaz
de apagá-la

domingo, 16 de outubro de 2011

Reciclável

Pelo tempo que for
Pela felicidade que durar ou
pela inteireza que faltar
viva!

Fechar ciclos, as vezes, é
dar oportunidade para que novos se abram.
E como a vida é relativa
também somos.

68 dias ou um ano
Dois ou a falta de um, que
faz falta.

Decisões furtivas
Dúvidas
Engodos
Certezas
...
Tudo somado, nos faz
nós, humanos.
E que bom!
Somos recicláveis.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Coleção

Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor

Já conheço as pedras do caminho,
E sei também que ali sozinho,
Eu vou ficar tanto pior

E o que é que eu posso contra o encanto?
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto e que, no entanto,
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes, velhos fatos,
Que num álbum de retratos
Eu teimo em colecionar

Lá vou eu de novo como um tolo,
Procurar o desconsolo,
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras,
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra lhe dizer que isso é pecado,
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado e você sabe a razão

Vou colecionar mais um soneto,
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração.

(Retrato em Branco e Preto_Tom Jobim)