Som do mar ao longe. Ela mais uma vez retornara à casa de praia. Neste dia, as janelas permaneceram fechadas. Frio fora. Neve dentro.
Tirou o tecido que cobria a mobília da sala, bateu o pó e encolheu-se no canto do sofá. Sabia o que estava por vir. Dias longos, em que só precisava de um tipo encontro.
Ela sempre voltava ali naquelas ocasiões. No final da tarde, preparava uma xícara de chá quente com leite, ia pra cadeira de embalar na sacada e observada o ir e vir das ondas. Não se atrevia a por os pés na água. Não estava pronta. À direita, mãe e filha catavam conchas. Do lado oposto, um garoto corria a plenos pulmões com um cão enorme atrás. Desses de propaganda de ração. Mais a frente, um casal de meia idade namorava o pôr-do-sol de mãos dadas. Sentiu pena de si mesma. E pela primeira vez chorou naquela temporada. No dia seguinte também. Acendeu um cigarro, abriu um livro de poesias e pôs a questionar-se que espécie de felicidade é essa que nos dizem ser a ideal ao longo da vida, que nos permite frustrar. Sabia o que era amor e já conhecia a vida sem ele. Recuara-se no mais íntimo desespero, mas era dona de si. Quis, por um momento de torpor, o que julgara ser seu. Mas sabia o que precisava ser feito. Ao final do décimo primeiro dia, desceu as escadas às pressas e correu pela areia. Quando a exaustão tomou conta do corpo, precipitou-se na água. Estava feito. A partir daquele momento declarara a morte da aflição. Então era hora de voltar pra casa.